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Domingo.
Olhei pela janela do meu quarto e observei a chuva lá fora. Pensei na minha vida, parei apenas para me focar nas gotas de água que começavam a formar pequenas poças no chão assimétrico da minha rua.
Começaram a surgir memórias passadas.
Lembrei-me de quando era pequeno, ainda andava na escola primária, acordava sempre cedo, tomava o pequeno-almoço feito pela minha mãe, o meu pai já tinha ido para o trabalho a essa hora, depois ia para o quarto vestir a roupa que eu e a minha mãe escolhíamos, pegava na mochila, metia-a nas costas, despedia-me da minha mãe com um beijinho, descia as escadas do prédio e ia a pé em direcção à escola. Naquela altura, no largo à frente da minha casa não existia nenhum prédio do lado esquerdo, apenas um terreno de terra batida com alguns altos e baixos e alguma vegetação rasteira. Quando chovia formava-se uma poça de água bastante grande a que eu chamava de “piscina”.
Enquanto me distanciava de casa caminhando por esse pequeno terreno, todos os dias olhava para trás, vislumbrava a minha varanda e lá dentro estava sempre a minha mãe a esboçar um enorme sorriso e a acenar-me com a mão. Eu retribuía o sinal, virava costas e seguia em frente. E era ai que eu o sentia. Sentia que era feliz. Feliz por ter alguém que através de um gesto me dizia que gostava de mim incondicionalmente. Sentia-me angustiado porque não a queria deixar sozinha. Sentia-me fraco e vulnerável porque ia percorrer um caminho sozinho.
Não sei porque me veio esta recordação à cabeça hoje quando estava a olhar pela minha janela, só sei que esta memória me mostrou que realmente existem momentos em que podemos sentir tudo, e estava a precisar de recordar isso.
Não me quero considerar fraco, quero sim acreditar que sou preguiçoso porque espero vir a conseguir fazer o que ainda não fiz e que me propus fazer.
“A única coisa que tens a fazer é continuar a sonhar e acreditar que tu podes mudar as coisas porque tens poder para isso. Mas também tens o dever de ser menos exigente com a tua felicidade principalmente.”
Essa linha é tão fina, é tão difícil manter-me equilibrado. Eu penso que a minha felicidade pura só vai existir quando eu sentir que marquei a diferença no meu mundo, porque se tive o direito à vida, também quero dar à vida o meu agradecimento.
“Tens de começar por te dar mais valor, a ti próprio e ao que fazes. Às vezes para marcar a diferença não é preciso tanto do que o que se julga.”
Obrigado pelas tuas sábias palavras Raquel.
“Exige menos de ti”
A resposta está aqui.
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